sexta-feira, 24 de abril de 2009


Vagueando lá longe

trabalho num sonho

de calor arrepiante

que reune pedaços que fui

mordazes que me condensam

descubro, porém... para lá da névoa

restícios perdidos

de circunstâncias extraordinárias

que constróiem a minha história

a louvor e glória pintada

com ardor e mágoa vencida

... ... ... ...

sinto-a a conta gotas

transpiro-lhe o sabor!

alcanço o odor da plenitude...

descobrindo, por fim
a alquimia!

só o incompleto pode ser romântico

apenas o inacabado pode ser perfeito!

tão somente a dor transpõe a calma...

para lá da montanha escorre a planície da vida...

terça-feira, 14 de abril de 2009


assustam-me os centímetros


a pressa dos minutos


revoltam-me os cálculos


ásperos, substimados


com iguais esquadros


da vida, já, fragilizados


porque é a vida medida


e não desmedida?


porque a alma não se conta


o vento não pesa


o palpitar não se mede!


só cresce quando espontâneo


doce e agressivo


que apimenta a alma...


a coragem se descobre


numa vida encoberta


pretensioso o desejo de subjectividade?


ordenar metódicamente sonhos!


na procura de diferentes raios de sol


as nuvens são vastas... muito vastas


não quero os sons ecléticos do quotidiano


quero o incessante sabor do mundano...


em infinita aprendizagem


buscar a medida de todas as coisas!

domingo, 12 de abril de 2009

É este o país que temos


Aqui vai mais uma mensagem, que alguns chamarão de seca, outros lerão apenas três linhas, por descargo de consciência, ou outros convencer-se-ão que voltam mais tarde, quando tiverem cabeça para tomar atenção...

Aqui está um espelho nosso, meu, teu, amigos, vizinhos, primos, tios... da minha sociedade, do meu país, retratada por alguém que merece toda a minha admiração e respeito...
depois de perdermos 10 minutos a ecutá-lo, não lhe conseguimos dar razão?


Eduardo Prado Coelho, (25/08/2007) (pouco antes da sua morte)


Precisa-se de matéria prima para construir um País

Eduardo Prado Coelho - in Público


A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates.O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro.Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais.Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos... e para eles mesmos. Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.Pertenço a um país:- Onde a falta de pontualidade é um hábito;- Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.- Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e, depois, reclamam do governo por não limpar os esgotos.- Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros.- Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é 'muito chato ter que ler') e não há consciência nem memória política,histórica nem económica.- Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar alguns.- Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser 'compradas', sem se fazer qualquer exame.- Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar.- Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão.- Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.Não. Não. Não. Já basta.Como 'matéria-prima' de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa.Esses defeitos, essa 'CHICO-ESPERTICE PORTUGUESA' congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não noutra parte...Fico triste.Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos.E não poderá fazer nada...Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, nem serve Sócrates e nem servirá o que vier.Qual é a alternativa?Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror?Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa 'outra coisa' não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para oslados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados... igualmente abusados!É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias.Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer.Está muito claro... Somos nós que temos que mudar.Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos:Desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e, francamente, somos tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez. Agora, depois desta mensagem, francamente, decidi procurar o responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO DE QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO NOUTRO LADO.
EDUARDO PRADO COELHO

quinta-feira, 9 de abril de 2009


A vida emociona-me

Os seres andantes destroem-me

Sons fragilizados

Ventos estagnados

Inundam o Reino outrora meu

Odeio injustiças mas cometo-as!

Recrimino fingimentos, mas conheço-os

Fingindo, caminhando... a minha única certeza

intemporal... a vida trespassa-me

Escrevo cada vez com mais sentido

Grito em silêncio com mais revolta

Atraido pelo fascínio da noite

Porque o dia é escuro

Existe coragem ao longo do medo

Continuando sem olhar para trás...

A verdade será sempre o meu maior segredo!


domingo, 5 de abril de 2009


Um espelho de mil faces mostra-te o caminho

vislumbras as nuvens negras, pesadas!

corres, porque é uma antiga vontade

mentira com verdade imposta, perdida.

na sombra de alguém que se recorta

Sem fôlego, tentas alcançar aquele comboio

com um bilhete há muito pré-comprado!

Será teu?

e fica a prometer-te a ilusão de uma viagem...

que tu não querias

imposta pelo vazio cheio na tua mão!


Não corras! Deixa-o partir...

respira fundo... não alcances aquela carruagem

trilhada em linhas podres, inseguras

guiada por caminhos incertos...

de braço dado com a noite indiferente

repleta de imagens de nada!


Partiu, ficaste na encruzilhada!

num lugar sem onde...

descobres que aquela não era tua, a carruagem

sorrindo, deixaste-a passar o negro tunel!


Quando, por sorte não a consegues avistar...

corre sim... aflito

não te esfumes no teu sonho!

porque o sol não te vai castigar

a tua nova carruagem está a passar


Respira agora o aroma do coração

pega uma carruagem tua, de segunda mão

Porque o mundo ainda pulsa!

quer queiras quer não...

ainda há linhas de aço, a chegar

à tua estação!


Regressa ao vento, sente a aragem

desde do abismo

entranha o sangue da terra...

vai na tua viagem, alcança

a sede mais antiga!

Impõe-te na tua paragem!

Quantas faces temos nós afinal?

Ora essa, isso nem se pergunta...

Poeira nos olhos... que ilumina,

ainda que de forma transversal,

a nossa essência...


será mordaz ouvir a nossa consciência?

Será demente ter coerência...

A minha voz é áspera quando tento ser eu!


Tudo isso são invenções? São? Ou não?

As estradas sem saída são longas, dentro delas,

atingiram o seu fim... mas continuam

no mapa... na rota... na estrada... camufladas!

Não demonstras o percurso...

mas sabê-lo tão bem...

Não traças o final, já bem o conhecias!

Não suguemos o suco da vitória...

não fínjamos que nossa alma é só glória...


Quantas faces temos eu e tu, afinal?

Que parte de nós deve ser original?

Não é aqui! Fica a quilómetros daí!

Sou o que sou ou o que tenho de ser?

Dou o que dou ou o que tenho de dar?


Encaixas as peças do puzzle

que não fazem, assim, sentido

Faz falta o poder de libertar!


Aclamam em mim cânticos de dor

Numa noite fechada com relâmpagos de sonhos

Porque a verdade tinha muito mais sabor!


Quantas faces temos nós, afinal?

quarta-feira, 1 de abril de 2009


O outro lado das coisas…


As palavras são fundantes?

Também desagregam


O amor cega?

Também revela


O ódio destrói?

Também liberta


A dúvida paralisa?

Também inspira


A coragem é altruísta?

Também é soberba


O medo atrapalha?

Também protege


A vida é tragédia?

Também é gloriosa


A morte é o termo?

Também é o recomeço!


João Melo